domingo, 22 de novembro de 2015

RESKI, DE PLUFT A GENTE CARIOCA.
                       por Glaura Gerhard
Fernando Reski, ao lado de Reny de Oliveira,
 em O Sítio do Pica-Pau Amarelo
Fernando Repitzky, conhecido no mundo artístico como Fernando Reski, é o ator vivo que mais atuou no cinema nacional. 
Carioca, de 1947, judeu, na infância morava na Rua Ferreira Viana, no Flamengo, mudando-se depois para uma cobertura na Rua Pereira da Silva, em Laranjeiras, onde o edifício inteiro era de sua família, composta pelo pai, a mãe Clara, ele e a irmã Francis.
Repitzky é o sobrenome do pai, falecido em 1995, natural de Odessa, cidade que pertencia a antiga União Soviética e atualmente à Ucrânia.  
A mãe, capixaba, também tem suas origens na antiga URSS, tendo como sobrenome de solteira Swartz.
Svilin Repitzky primeiro emigrou para Buenos Aires e de lá para o Rio de Janeiro, onde conheceu a esposa. Chegou a ser um dono de fábrica de moveis, muito bem sucedido, com muitos empregados, num endereço na antiga Praça XI, Fábrica de Móveis Ritz, que foi fechada e o imóvel derrubado para dar lugar ao sambódromo da cidade.
Apesar de Fernando ser o único filho homem, ele nunca o obrigou a seguir seus passos, e sempre deu força para que ele seguisse carreira no que gostava de fazer: ATUAR
O sobrenome artístico RESKI foi criação do empresário Orlando Miranda, quando contratou nosso querido biografado para fazer parte do elenco do Teatro Infantil que se iniciava no Teatro Princesa Isabel, em Copacabana, Rio de Janeiro.  "Miranda achou o sobrenome Repitzky muito complicado para o meio artístico brasileiro", nos conta Fernando.
Desde muito novo, Fernando sempre era o orador da turma, tanto no Colégio Liessin, onde iniciou os estudos, quanto mais tarde, no Liceu Franco-Brasileiro. O palco já era o lugar onde se sentia melhor, a vocação o chamava, tinha muita vontade de entrar para o teatro, mas como na família não tinha ninguém do ramo, ele não sabia muito bem o que fazer para iniciar-se no meio artístico. Chegou a cursar 3 anos de arquitetura na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Adorava ir ao teatro e admirava os atores nas peças que estavam em cartaz. Um dia, já com seus 17 anos, estava numa fila no Teatro Ginástico, atual SESC Ginástico, para ver Os Direitos da Mulher com a famosa Tereza Rachel, quando começou a conversar com um outro rapaz e contou do interesse de fazer teatro, esse recomendou que fosse ao Tablado, na Escola de Teatro de Maria Clara Machado
O ano era 1964 e o Tablado na época não passava de um celeiro, mas não existiam outras escolas de teatro e ainda não havia sido criada a Rede Globo, então a escola de Maria Clara era a grande reveladora de novos talentos.
Fernando foi aceito e logo, logo estava estreando na segunda montagem de Pluft, O Fantasminha, peça infantil famosa de Maria Clara, tão famosa que já foi montada várias vezes, sendo que a primeira em 1955.
Reski, que ainda não era Reski, fazia o papel do Tio Gerúndio, fantasma, ex-marinheiro, tio de Pluft, que vive dormindo no baú do tesouro. Ganhou elogios da crítica pela atuação.
Em seguida Maria Clara o levou para trabalhar em Sonhos de Uma Noite de Verão, de Shakespeare, no Teatro do Copacabana Palace.
De lá, tudo foi acontecendo: foi fazer parte do elenco do Teatro Princesa Isabel com Pernambuco de Oliveira, Pedro Veiga e Orlando Miranda,  foi para o Cinema, com José Oliosi e Daniel Filho, mais teatro, mais filmes, e, por uma ironia do destino pegou o ônibus errado em São Paulo; ao invés de parar na Rodoviária para voltar ao Rio, desceu no Vale do Anhangabaú. O erro acabou sendo um grande acerto porque encontrou Ademar Guerra que o convidou para o teste de elenco da peça Hair, onde acabou sendo contratado, trabalhando nas montagens paulista e carioca.
Pelo menos duas curiosidades ocorreram com ele por causa de Hair, ele nos conta que a primeira é que o nu da peça era na base da escala, chegavam no Teatro e viam num papel preso à parede quem ia ficar nu naquele dia, era assim desde os ensaios. Logo na estreia ele foi escalado, tornando-se o primeiro nu do teatro brasileiro.
A segunda é que ainda durante a montagem paulista, ele e uma das atrizes resolveram se casar em pleno palco.  Como a peça era um estrondoso sucesso, eles ganharam tudo:  casamento, festa, bufê, fotos, inclusive o figurino feito por nada mais, nada menos que o famoso costureiro Clodovil, que disputou com Dener, outro famoso costureiro da época, o direito de executar e dar a roupa de presente aos nubentes. Ganharam também uma lua de mel num grande hotel em Atibaia. O casamento foi televisionado ao vivo por Cidinha Campos e matéria nos jornais e revistas da época, como Fatos e Fotos, Manchete, Amiga e outras.
Ao lado do ator Fábio Vila Verde, Reski é a raposa em O Pequeno Príncipe

O enlace não durou muito, acabaram optando pela separação, com a ex indo morar na Alemanha, mas Fernando nos confessa que até hoje guarda com muito carinho o paletó que o Clodovil fez para ele!
De sua atuação em Roda Viva de Chico Buarque, Fernando ficou com um gosto amargo: era muito jovem e não entendia muito bem o que estava ocorrendo, não sabia porque chamavam a peça de “teatro de agressão”.  Estavam em plena época da repressão, e a peça, por ser de Chico Buarque e por tudo que representava, era muito combatida, chegando ao ponto de num dia o CCC - Comando de Caça aos Comunistas entrar quebrando o Teatro Ruth Escobar em São Paulo, onde a peça estava sendo encenada e batendo violentamente nos atores. Reski, assim como outros colegas, conseguiram fugir por um basculante do camarim que ocupavam.
Com Freud Explica Fernando conseguiu viajar por todo o Brasil, a peça é engraçada, um casal de homens que o pai de um deles chega do interior e estranha a decoração do apartamento, tudo rosa, estranha a relação deles. Os dois tentam esconder, mas lógico que não conseguem.  É uma comédia francesa.
Em TV já trabalhou com todos os tipos de programação: humorísticos, novelas, mini séries, seriados, entrevistas, e também em praticamente todas as emissoras de televisão.  Participou de A Praça é Nossa, Chico City, Carga Pesada, Sítio do Pica Pau Amarelo, foi o juiz do julgamento de Seu Quéqué, um caixeiro viajante com nada menos que 3 esposas, na Mini Série Rabo de Saia da TV Globo.
Fez teste na Globo quando ainda estavam colocando os elevadores no primeiro endereço da emissora, no Jardim Botânico.
Nas TVs Manchete e Bandeirantes trabalhou durante muitos anos dando cobertura aos Bailes de Carnaval, entrevistando as pessoas e nos bastidores e camarotes do Sambódromo.
É um dos diretores do Sindicato dos Artistas e também durante muitos anos foi Professor de Curso Técnico de Formação de Ator, o que achou muito prazeroso, gostava quando alunos seus eram contratados e vinham contar e agradecer.
Com quase 50 anos de carreira, continua cheio de ideias e projetos, criando e participando de programas piloto para seriados de TV, buscando patrocínio para a sua peça, um teatro de revistas, Brasil, de Janeiro a Janeiro, que já esteve em cartaz no Teatro Dulcina, e trabalhando com programas de entrevistas
Filho amoroso, Fernando mora e cuida da mãe já muito idosa e doente, o que até prejudica um pouco sua carreira, por ter dificuldades de deixar a cidade para se apresentar em outros lugares.
O que cativa em Fernando, quando temos a felicidade de ter um contato pessoal com ele, de conhecê-lo de perto, é o seu modo carinhoso e extrovertido de ser, hiper ligado em tudo que está ocorrendo, sobretudo no mundo artístico, os olhos brilham e faíscam o tempo inteiro, mostrando sua inteligência e amor à profissão e a todo o seu passado; bem diferente dos papéis que atuou em teatro, cinema e televisão, quando normalmente fazia papel de tímido ou de bobo.  Como tem tipo de gringo e usava óculos de grau (que não precisa mais, graças ao Dr. Cesar Belchimol), era sempre escalado para fazer esse tipo gringo bobo que não condiz com a pessoa que é.
Seu jeito real de ser, brilha e surge quando está trabalhando com entrevistas, e não com os papéis que interpretou.
Atualmente, Fernando, dentre outras atividades que desenvolve, está no ar com dois programas de entrevistas, um na Rádio Copacabana onde normalmente leva cantores para se apresentarem ao vivo ou em playback e pessoas que queiram divulgar seus trabalhos nas artes: peças, filmes, lançamentos de livros, exposições etc, e também, desde 2010, está toda quinta-feira à meia noite, no Canal 14 da NET Rio, com o programa GENTE CARIOCA, o programa mais carioca da TV, que vai aos locais de lançamentos, estreias, shows, tudo que acontece no meio artístico da Cidade Maravilhosa, cobrindo o evento e entrevistando. Divide essa prazerosa tarefa com Cida Moraes.


Fontes: 
·       Entrevista concedida aos alunos do Curso de Biografias do Professor Denilson Monteiro, ocorrida na Estação das Letras, novembro de 2015;
·       Entrevista a Cida Moraes ao Programa Gente Carioca, quando do lançamento do livro de sua biografia Não Se Esqueçam de Mim, de Urfe da Silva Carvalho, Editora Letras e Versos;
·      Entrevista ao Programa Conversa Afinada, em setembro de 2015.



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