domingo, 22 de novembro de 2015

RESKI, DE PLUFT A GENTE CARIOCA.
                       por Glaura Gerhard
Fernando Reski, ao lado de Reny de Oliveira,
 em O Sítio do Pica-Pau Amarelo
Fernando Repitzky, conhecido no mundo artístico como Fernando Reski, é o ator vivo que mais atuou no cinema nacional. 
Carioca, de 1947, judeu, na infância morava na Rua Ferreira Viana, no Flamengo, mudando-se depois para uma cobertura na Rua Pereira da Silva, em Laranjeiras, onde o edifício inteiro era de sua família, composta pelo pai, a mãe Clara, ele e a irmã Francis.
Repitzky é o sobrenome do pai, falecido em 1995, natural de Odessa, cidade que pertencia a antiga União Soviética e atualmente à Ucrânia.  
A mãe, capixaba, também tem suas origens na antiga URSS, tendo como sobrenome de solteira Swartz.
Svilin Repitzky primeiro emigrou para Buenos Aires e de lá para o Rio de Janeiro, onde conheceu a esposa. Chegou a ser um dono de fábrica de moveis, muito bem sucedido, com muitos empregados, num endereço na antiga Praça XI, Fábrica de Móveis Ritz, que foi fechada e o imóvel derrubado para dar lugar ao sambódromo da cidade.
Apesar de Fernando ser o único filho homem, ele nunca o obrigou a seguir seus passos, e sempre deu força para que ele seguisse carreira no que gostava de fazer: ATUAR
O sobrenome artístico RESKI foi criação do empresário Orlando Miranda, quando contratou nosso querido biografado para fazer parte do elenco do Teatro Infantil que se iniciava no Teatro Princesa Isabel, em Copacabana, Rio de Janeiro.  "Miranda achou o sobrenome Repitzky muito complicado para o meio artístico brasileiro", nos conta Fernando.
Desde muito novo, Fernando sempre era o orador da turma, tanto no Colégio Liessin, onde iniciou os estudos, quanto mais tarde, no Liceu Franco-Brasileiro. O palco já era o lugar onde se sentia melhor, a vocação o chamava, tinha muita vontade de entrar para o teatro, mas como na família não tinha ninguém do ramo, ele não sabia muito bem o que fazer para iniciar-se no meio artístico. Chegou a cursar 3 anos de arquitetura na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Adorava ir ao teatro e admirava os atores nas peças que estavam em cartaz. Um dia, já com seus 17 anos, estava numa fila no Teatro Ginástico, atual SESC Ginástico, para ver Os Direitos da Mulher com a famosa Tereza Rachel, quando começou a conversar com um outro rapaz e contou do interesse de fazer teatro, esse recomendou que fosse ao Tablado, na Escola de Teatro de Maria Clara Machado
O ano era 1964 e o Tablado na época não passava de um celeiro, mas não existiam outras escolas de teatro e ainda não havia sido criada a Rede Globo, então a escola de Maria Clara era a grande reveladora de novos talentos.
Fernando foi aceito e logo, logo estava estreando na segunda montagem de Pluft, O Fantasminha, peça infantil famosa de Maria Clara, tão famosa que já foi montada várias vezes, sendo que a primeira em 1955.
Reski, que ainda não era Reski, fazia o papel do Tio Gerúndio, fantasma, ex-marinheiro, tio de Pluft, que vive dormindo no baú do tesouro. Ganhou elogios da crítica pela atuação.
Em seguida Maria Clara o levou para trabalhar em Sonhos de Uma Noite de Verão, de Shakespeare, no Teatro do Copacabana Palace.
De lá, tudo foi acontecendo: foi fazer parte do elenco do Teatro Princesa Isabel com Pernambuco de Oliveira, Pedro Veiga e Orlando Miranda,  foi para o Cinema, com José Oliosi e Daniel Filho, mais teatro, mais filmes, e, por uma ironia do destino pegou o ônibus errado em São Paulo; ao invés de parar na Rodoviária para voltar ao Rio, desceu no Vale do Anhangabaú. O erro acabou sendo um grande acerto porque encontrou Ademar Guerra que o convidou para o teste de elenco da peça Hair, onde acabou sendo contratado, trabalhando nas montagens paulista e carioca.
Pelo menos duas curiosidades ocorreram com ele por causa de Hair, ele nos conta que a primeira é que o nu da peça era na base da escala, chegavam no Teatro e viam num papel preso à parede quem ia ficar nu naquele dia, era assim desde os ensaios. Logo na estreia ele foi escalado, tornando-se o primeiro nu do teatro brasileiro.
A segunda é que ainda durante a montagem paulista, ele e uma das atrizes resolveram se casar em pleno palco.  Como a peça era um estrondoso sucesso, eles ganharam tudo:  casamento, festa, bufê, fotos, inclusive o figurino feito por nada mais, nada menos que o famoso costureiro Clodovil, que disputou com Dener, outro famoso costureiro da época, o direito de executar e dar a roupa de presente aos nubentes. Ganharam também uma lua de mel num grande hotel em Atibaia. O casamento foi televisionado ao vivo por Cidinha Campos e matéria nos jornais e revistas da época, como Fatos e Fotos, Manchete, Amiga e outras.
Ao lado do ator Fábio Vila Verde, Reski é a raposa em O Pequeno Príncipe

O enlace não durou muito, acabaram optando pela separação, com a ex indo morar na Alemanha, mas Fernando nos confessa que até hoje guarda com muito carinho o paletó que o Clodovil fez para ele!
De sua atuação em Roda Viva de Chico Buarque, Fernando ficou com um gosto amargo: era muito jovem e não entendia muito bem o que estava ocorrendo, não sabia porque chamavam a peça de “teatro de agressão”.  Estavam em plena época da repressão, e a peça, por ser de Chico Buarque e por tudo que representava, era muito combatida, chegando ao ponto de num dia o CCC - Comando de Caça aos Comunistas entrar quebrando o Teatro Ruth Escobar em São Paulo, onde a peça estava sendo encenada e batendo violentamente nos atores. Reski, assim como outros colegas, conseguiram fugir por um basculante do camarim que ocupavam.
Com Freud Explica Fernando conseguiu viajar por todo o Brasil, a peça é engraçada, um casal de homens que o pai de um deles chega do interior e estranha a decoração do apartamento, tudo rosa, estranha a relação deles. Os dois tentam esconder, mas lógico que não conseguem.  É uma comédia francesa.
Em TV já trabalhou com todos os tipos de programação: humorísticos, novelas, mini séries, seriados, entrevistas, e também em praticamente todas as emissoras de televisão.  Participou de A Praça é Nossa, Chico City, Carga Pesada, Sítio do Pica Pau Amarelo, foi o juiz do julgamento de Seu Quéqué, um caixeiro viajante com nada menos que 3 esposas, na Mini Série Rabo de Saia da TV Globo.
Fez teste na Globo quando ainda estavam colocando os elevadores no primeiro endereço da emissora, no Jardim Botânico.
Nas TVs Manchete e Bandeirantes trabalhou durante muitos anos dando cobertura aos Bailes de Carnaval, entrevistando as pessoas e nos bastidores e camarotes do Sambódromo.
É um dos diretores do Sindicato dos Artistas e também durante muitos anos foi Professor de Curso Técnico de Formação de Ator, o que achou muito prazeroso, gostava quando alunos seus eram contratados e vinham contar e agradecer.
Com quase 50 anos de carreira, continua cheio de ideias e projetos, criando e participando de programas piloto para seriados de TV, buscando patrocínio para a sua peça, um teatro de revistas, Brasil, de Janeiro a Janeiro, que já esteve em cartaz no Teatro Dulcina, e trabalhando com programas de entrevistas
Filho amoroso, Fernando mora e cuida da mãe já muito idosa e doente, o que até prejudica um pouco sua carreira, por ter dificuldades de deixar a cidade para se apresentar em outros lugares.
O que cativa em Fernando, quando temos a felicidade de ter um contato pessoal com ele, de conhecê-lo de perto, é o seu modo carinhoso e extrovertido de ser, hiper ligado em tudo que está ocorrendo, sobretudo no mundo artístico, os olhos brilham e faíscam o tempo inteiro, mostrando sua inteligência e amor à profissão e a todo o seu passado; bem diferente dos papéis que atuou em teatro, cinema e televisão, quando normalmente fazia papel de tímido ou de bobo.  Como tem tipo de gringo e usava óculos de grau (que não precisa mais, graças ao Dr. Cesar Belchimol), era sempre escalado para fazer esse tipo gringo bobo que não condiz com a pessoa que é.
Seu jeito real de ser, brilha e surge quando está trabalhando com entrevistas, e não com os papéis que interpretou.
Atualmente, Fernando, dentre outras atividades que desenvolve, está no ar com dois programas de entrevistas, um na Rádio Copacabana onde normalmente leva cantores para se apresentarem ao vivo ou em playback e pessoas que queiram divulgar seus trabalhos nas artes: peças, filmes, lançamentos de livros, exposições etc, e também, desde 2010, está toda quinta-feira à meia noite, no Canal 14 da NET Rio, com o programa GENTE CARIOCA, o programa mais carioca da TV, que vai aos locais de lançamentos, estreias, shows, tudo que acontece no meio artístico da Cidade Maravilhosa, cobrindo o evento e entrevistando. Divide essa prazerosa tarefa com Cida Moraes.


Fontes: 
·       Entrevista concedida aos alunos do Curso de Biografias do Professor Denilson Monteiro, ocorrida na Estação das Letras, novembro de 2015;
·       Entrevista a Cida Moraes ao Programa Gente Carioca, quando do lançamento do livro de sua biografia Não Se Esqueçam de Mim, de Urfe da Silva Carvalho, Editora Letras e Versos;
·      Entrevista ao Programa Conversa Afinada, em setembro de 2015.



segunda-feira, 16 de novembro de 2015

FERNANDO RESKI e o que nos faz viver |Juliana Calafange

Há muito pouco sobre Fernando Reski na internet. Uma grande falha, certamente, já que se trata de um dos atores mais versáteis do país, um homem que ama e respira teatro. Fez mais de 50 filmes nacionais, um recorde, além de ter participado do elenco de alguns dos mais importantes espetáculos teatrais do Brasil, como Roda Viva, Hair e A Capital Federal, e de programas e novelas que marcaram a história da TV brasileira.
Falando assim, você pode não se lembrar, ou não associar o nome à pessoa. Mas se você tem em torno de 40 anos de idade e olhar uma fotografia dele, tirada nos anos 1980 por exemplo, certamente vai achar que o conhece de algum lugar. E pode ter certeza que o conhece de vários.
Fernando nasceu Repitzky, sobrenome herdado do pai, de origem russa judaica. Seus avós maternos e paternos, vieram da Rússia fugindo do comunismo europeu, e foram se encontrar no Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro, lá pelos anos 1920. Graças a esse encontro inusitado, quem diria, temos hoje o incansável e insaciável Fernando Reski. Aliás, foi Orlando Miranda, um dos fundadores do Teatro Infantil do Teatro Princesa Isabel, quem batizou-o de Reski, por achar mais adequado e sonoro do que Repitzky...
Na época em que foi orador no colégio Liessen do Rio de Janeiro, Fernando certamente não ligava pra sobrenomes, nem imaginava o que iria se tornar anos depois. Mas foi ali, naquele tablado de colégio, que o bichinho do teatro mordeu o jovem estudante. Foi a partir dessa experiência como orador que começou a surgir aquela vontade de palco, de holofote, mas ele ainda não sabia disso, nem por onde começar, ficava procurando. A verdade é que até uns 18 anos não sabia o que ia fazer da vida. Chegou a cursar Arquitetura por 3 anos no Fundão. Mas aí o lado artístico falou mais alto e ganhou a parada.
Fernando conta que em 1964, com 17 pra 18 anos, foi assistir a peça Os Direitos da Mulher com Teresa Rachel no Teatro Ginástico. Puxou papo com Antonio Bivar, que estava começando a escrever, e disse que queria ser ator. Ele sugeriu que Fernando procurasse a Maria Clara Machado, no teatro Tablado. Ele foi. Maria Clara perguntou: É isso mesmo que você quer? Ele disse que sim. E entrou pro cultuado curso de teatro, que formou tantos talentos como Marieta Severo, Louise Cardoso, Fernando Caruso e Miguel Falabella.
Nessa época, a família morava no bairro das Laranjeiras, na Rua Pereira da Silva, no Rio. Era uma época conturbada do nosso pais e Laranjeiras era um lugar "perigoso", o Palácio Guanabara, sede do Governo, ficava no bairro, e estava sempre cercado de polícia e tanques do Exército. O pai de Fernando, o comerciante de móveis Svilin Repitzky, ia sempre esperar o filho no ponto de ônibus, quando ele voltava do curso no Tablado, porque era perigoso andar sozinho por ali. Fernando se lembra até hoje, foi nessa época que muita gente boa foi embora do Brasil.
Mesmo com essas dificuldades políticas, o Tablado lhe rendeu frutos e acabou por empurrar Fernando Reski adiante na carreira de ator. Maria Clara Machado o escalou para fazer o Tio Gerúndio na remontagem de Pluft - O Fantasminha, em 1964 (a primeira encenação foi em 1955) e então tudo começou. Pluft foi parar no Copacabana Palace, premiadíssimo. Logo depois veio Sonhos de Uma Noite de Verão, de Shakespeare, ainda com Maria Clara Machado... E daí para "o mundo".

Érico Vidal e Fernando Reski em Pluft - O Fantasminha

TEATRO
No teatro, Fernando Reski participou de espetáculos icônicos da cultura nacional, como Roda Viva, Hair e A Capital Federal.
Escrita por Chico Buarque no final de 1967, Roda Viva estreou no Rio de Janeiro no início de 1968, sob a direção de José Celso Martinez Corrêa. Foi a primeira incursão de Chico Buarque na área da dramaturgia. Eram anos difíceis e o "teatro de agressão", uma das alcunhas do teatro de protesto no período da ditadura militar, chamava a atenção da censura e dos intolerantes da Direita.
Durante a segunda temporada, da qual participou Fernando Reski, a peça virou um símbolo da resistência contra a ditadura. Um grupo de cerca de cem pessoas do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), invadiu o Teatro Ruth Escobar, onde a peça estava em cartaz em São Paulo, espancou os artistas e depredou o cenário. Magrinho, Fernando Reski conseguiu escapar junto com alguns colegas de elenco pelo basculante do camarim.
Após o revés na capital paulista, o espetáculo voltou a ser encenado em Porto Alegre e os atores da peça voltaram a ser vítimas da violência do CCC. Roda Viva é considerada uma das mais importantes peças de teatro brasileiras produzidas naqueles anos e conta a história de um ídolo da canção que decide mudar de nome para agradar ao público, em um contexto de uma indústria cultural e televisiva nascente no Brasil dos anos 60, numa clara crítica à sociedade de consumo.
Mas nessa época, Fernando era ainda muito jovem, e segundo ele próprio, nem sabia o que está fazendo ali. Não tinha essa consciência política, nem sabia porque aquilo tinha o nome de "teatro de agressão".
Hair foi um pouco depois. E foi por acaso que entrou no elenco. Tinha ido a São Paulo e na Rodoviária pegou o ônibus errado, acabou descendo no Anhangabaú, onde encontrou Ademar Guerra, que estava fazendo teste pro elenco de Hair. Fernando diz que foi fazer o teste para o musical, apesar de não saber cantar nem dançar. Ademar, diretor do espetáculo, precisava de um tipo bem específico para o personagem Hubert, "com cara de inglês babaca. Entrei no Hair porque eu tinha cara de babaca, foi o que ele falou depois", conta Reski.
Hair foi um sucesso enorme, "Hair era Roberto Carlos, era a Anita, não podíamos nem sair à rua...". Reski diz que foi uma experiência incrível e que foi lá que acabou aprendendo a cantar e dançar.
Fernando também participou da peça A Capital Federal, de 1972, outro grande sucesso, que conseguiu a proeza de ser um espetáculo de alto custo que se pagou em 2 meses de produção. Coisa raríssima até nos dias de hoje, com patrocínio e Lei Rouanet.
Entre tantas outras produções, Fernando também trabalhou com Paulo Coelho em Capitães de Areia, de Jorge Amado, na montagem do grupo de Teatro Universitário Nacional de 1966; em O Violinista no Telhado, de Joseph Stein, em 1972, cujo trabalho na pele do alfaiate Motl lhe rendeu um Prêmio de Melhor Ator Coadjuvante; em A teoria na prática é outra, de Antônio Pedro, montada no Teatro Princesa Isabel (RJ) em 1974; em Freud Explica, de Ron Clark e Sam Bobrick, também de 1974, com a qual excursionou pelo Brasil todo.
Ele é ainda autor de várias peças, como Casamento Complicado e Você está Envolvido ou Comprometido?. Em 2015, escreveu e dirigiu no Teatro Dulcina a peça Brasil, de Janeiro a Janeiro, inspirada no teatro de revista.

TV
Na TV Fernando Reski também teve grande atividade, participando de programas e novelas marcantes.
Em 1967, fez parte do elenco da novela Anastácia, a Mulher sem Destino, com Leila Diniz como protagonista. Escrita inicialmente por Emiliano Queiróz, a novela não emplacou e Janete Clair (1925-1983) foi chamada para dar um jeito na trama. Era a estréia da autora na TV Globo, que naquele ano tinha apenas 2 anos de existência. A solução, que acabou ficando famosa na história das telenovelas, criada por Janete Clair, foi um terremoto que matou 35 personagens, dando uma virada radical na trama. O personagem de Reski foi um dos que sobreviveu... Também fez a novela Uma Rosa com Amor, de Vicente Sesso, com direção de Walter Campos em 1972/73, junto com Marilia Pêra, Paulo Goulart, Grande Otelo e Tônia Carrero, entre outros. A novela marcou o estilo "comédia romântica" das 19h na Rede Globo, tornando-se um dos maiores sucessos no horário na década de 70.


Ainda na Globo, Fernando Reski foi convidado por Mario Lucio Vaz para fazer parte da linha de shows da emissora. Atuou em Chico Anysio Especial, Linguinha x Mr. Yes (novela infantil protagonizada por Chico Anysio, entre 1971 e 1972), Os Trapalhões,  Chico City, Sítio do Pica Pau Amarelo, Carga Pesada (versão de 1979), Rabo de Saia, além do quadro "Adivinhem quem é?" do Fantástico, trabalhando com diretores como Walter Avancini, Régis Cardoso e Herval Rossano.
Também trabalhou na TV Excelsior, SBT e Bandeirantes, onde acabou virando entrevistador, cobrindo o Carnaval do Rio de Janeiro. Isso também foi por acaso. Claudio Petraglia, que era Diretor da TV Bandeirantes, o chamou dizendo: “Fernando Reski, por que você não vira apresentador? Você quer fazer carnaval ao vivo? Vem fazer com a gente. Você sabe tudo, você pergunta e não vai nem ouvir a resposta (por causa do barulho)”. Ficou na função por 7 anos, o que também lhe rendeu espaço na TV Manchete e CNT. Atualmente apresenta do programa Gente Carioca, ao lado de Cida Moraes, no Canal Net Rio, onde entrevista profissionais de diversos setores da arte, como cinema, teatro, TV, música etc.

Fernando Reski e Cida Moraes, os apresentadores do programa Gente Carioca


CARNAVAL
Falando em carnaval, Fernando também foi "vanguardista" nos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro. Em 1980, o primeiro casal Adão e Eva causou sensação na Marquês de Sapucaí, durante o desfile da União da Ilha. Martha Anderson e Reski desfilaram nus em uma gaiola de vidro, no enredo "Bom, Bonito e Barato", e seria o grande trunfo reservado pela escola. Só que na última hora, por imposição dos organizadores do desfile, foram obrigados a usar um tapa-sexo em forma de folhas de parreira. Fernando guarda esse tapa-sexo até hoje.

CINEMA
Fernando Reski é o ator vivo que mais participou de filmes nacionais. Um recorde e tanto! São mais de 50 e tantos longas, entre musicais, dramas, comédias, chanchadas e pornochanchadas. Entre eles, Vai Trabalhar Vagabundo, O Monstro de Santa Teresa, O Vampiro de Copacabana, O Guarani, O Coronel e o Lobisomem, Lerfa Mú, O Homem da Capa Preta, só para citar alguns.
Foi o teatro que o levou ao cinema. Era 1968 e Reski estava em temporada com Roda Viva no Teatro Princesa Isabel, no Rio de Janeiro. José Oliosi Neto (1938-2013) foi quem o chamou pra fazer cinema: “Vai ter um filme de Jovem Guarda” (Juventude e Ternura, de Aurélio Teixeira, 1968). Reski não deixou mais o cinema. Ou foi o cinema que não o deixou? Pela filmografia que você confere abaixo, é difícil dizer...
1.      1996 O Lado Certo da Vida Errada
2.     1991 Operação Golden Scorpion
3.     1988 O Diabo na Cama
4.    1986 Rockmania
5.     1986 O Homem da Capa Preta
6.     1985 As Aventuras de Sérgio Malandro
7.     1985 O Verdadeiro Amante Sexual
8.     1985 Urubus e Papagaios
9.     1985 Bum Bum, a Coisa Erótica
10.  1984 Amenic - Entre o Discurso e a Prática
11.    1984 Profissão Mulher
12.   1984 Mulheres Insaciáveis
13.   1983 Depravados em Fúria
14.  1981 Anjos do Sexo
15.   1981 Um Marciano em Minha Cama
16.   1981 Crazy - Um Dia Muito Louco
17.   1981 A Ilha do Amor
18.   1981 Os Rapazes das Calçadas
19.   1980 Consórcio de Intrigas
20. 1980 Insônia 
21.   1980 O Grande Palhaço
22.  1980 Os Paspalhões em Pinóquio 2000
23.  1980 Prova de Fogo
24. 1980 Amantes Violentos
25.  1980 Tudo Acontece em Copacabana
26.  1979 Lerfá Mú
27.  1979 Muito Prazer
28.  1979 Nos Tempos da Vaselina
29.  1979 O Coronel e o Lobisomem
30. 1979 O Guarani
31.   1979 O Preço do Prazer
32.  1979 Sábado Alucinante
33.  1978 Amada Amante
34. 1978 A Noiva da Cidade
35.  1978 Se Segura, Malandro!
36.  1978 O Namorador
37.  1977 Belas e Corrompidas
38.  1977 O Seminarista
39.  1977 Ódio
40. 1977 Snuff, Vítimas do Prazer
41.  1977 Nem As Enfermeiras Escapam
42. 1977 O Garanhão no Lago das Virgens
43. 1976 As Mulheres Que Dão Certo
44. 1976 O Sexomaníaco
45. 1976 O Vampiro de Copacabana
46. 1976 As Massagistas Profissionais
47.  1976 Annie, a Virgem de Saint-Tropez
48. 1975 Eu Dou O Que Ela Gosta
49. 1975 O Monstro de Santa Teresa
50. 1973 Vai Trabalhar Vagabundo
51.   1973 O Fraco do Sexo Forte
52.  1969 Os Paqueras
53.  1969 A Mulher do Rio 
54. 1969 Pobre Príncipe Encantado
55.  1968 Juventude e Ternura


                              Reski e Elke Maravilha em A Noiva da Cidade


RÁDIO
Reski não pegou a época áurea do Rádio, nos anos 30, 40 e 50. Mas nem por isso deixou de pôr sua marca ali também. Faz um trabalho importantíssimo na Rádio Copacabana do Rio de Janeiro, onde proporciona aos talentos a oportunidade de divulgar seus trabalhos e projetos artísticos através do programa Show de Entretenimento, que apresenta junto com César Guerreiro. O programa é um streaming ao vivo transmitido simultaneamente pela internet para todos os países e tem milhares de seguidores ao redor do mundo.
Fernando é um dos diretores do Sindicato dos Artistas e também é professor de teatro. Diz que sente enorme prazer na função, que se sente útil.

Fernando Reski é, acima de tudo, um homem que ama o teatro. Viveu os tempos em que ser ator era coisa de gente corajosa. Época em que se fazia cinema e teatro sem dinheiro, a TV estava apenas começando, era uma vida muito mais dura do que glamourosa. Não que hoje ainda não seja dura. Quem não está sob os holofotes, precisa percorrer o árduo caminho da captação de recursos, das leis de incentivo, da burocracia infindável. Muitos espetáculos estréiam "na raça", sem patrocínio, alguns se saem bem, outros não. Mas, segundo as palavras do próprio Reski, "isso é o bom do teatro: a aventura, o risco do teatro. O teatro é a base de tudo, é onde a gente nasce, onde as emoções são verdadeiras, sem cortes, sem ponto eletrônico. A gente entra por inteiro, a platéia responde e cada dia é diferente do outro. Isso está nas nossas veias, no nosso dia-a-dia, no nosso suor. É o ar que a gente respira. É o que nos faz viver. E viva o teatro!".