RESKI, DE PLUFT A GENTE CARIOCA.
por Glaura Gerhard
Fernando Reski, ao lado de Reny de Oliveira, em O Sítio do Pica-Pau Amarelo |
Fernando Repitzky, conhecido no mundo
artístico como Fernando Reski, é o ator vivo que mais atuou no cinema
nacional.
Carioca, de 1947, judeu, na infância
morava na Rua Ferreira Viana, no Flamengo, mudando-se depois para uma cobertura
na Rua Pereira da Silva, em Laranjeiras, onde o edifício inteiro era de sua
família, composta pelo pai, a mãe Clara, ele e a irmã Francis.
Repitzky é o sobrenome do pai, falecido
em 1995, natural de Odessa, cidade que pertencia a antiga União Soviética e
atualmente à Ucrânia.
A mãe, capixaba, também tem suas
origens na antiga URSS, tendo como sobrenome de solteira Swartz.
Svilin Repitzky primeiro emigrou
para Buenos Aires e de lá para o Rio de Janeiro, onde conheceu a esposa. Chegou
a ser um dono de fábrica de moveis, muito bem sucedido, com muitos empregados,
num endereço na antiga Praça XI, Fábrica de Móveis Ritz, que foi fechada e o imóvel
derrubado para dar lugar ao sambódromo da cidade.
Apesar de Fernando ser o
único filho homem, ele nunca o obrigou a seguir seus passos, e sempre deu
força para que ele seguisse carreira no que gostava de fazer: ATUAR.
O sobrenome artístico RESKI foi criação
do empresário Orlando Miranda, quando contratou nosso querido biografado
para fazer parte do elenco do Teatro Infantil que se iniciava no Teatro
Princesa Isabel, em Copacabana, Rio de Janeiro. "Miranda achou o
sobrenome Repitzky muito complicado para o meio artístico brasileiro", nos
conta Fernando.
Desde muito novo, Fernando sempre era o
orador da turma, tanto no Colégio Liessin, onde iniciou os estudos, quanto mais
tarde, no Liceu Franco-Brasileiro. O palco já era o lugar onde se sentia
melhor, a vocação o chamava, tinha muita vontade de entrar para o teatro, mas
como na família não tinha ninguém do ramo, ele não sabia muito bem o que fazer
para iniciar-se no meio artístico. Chegou a cursar 3 anos de arquitetura na
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Adorava ir ao teatro e admirava os
atores nas peças que estavam em cartaz. Um dia, já com seus 17 anos, estava
numa fila no Teatro Ginástico, atual SESC Ginástico, para ver Os
Direitos da Mulher com a famosa Tereza Rachel, quando começou a
conversar com um outro rapaz e contou do interesse de fazer teatro, esse
recomendou que fosse ao Tablado, na Escola de Teatro de Maria Clara Machado
O ano era 1964 e o Tablado na época não
passava de um celeiro, mas não existiam outras escolas de teatro e ainda
não havia sido criada a Rede Globo, então a escola de Maria Clara era a grande
reveladora de novos talentos.
Fernando foi aceito e logo, logo estava
estreando na segunda montagem de Pluft, O Fantasminha, peça
infantil famosa de Maria Clara, tão famosa que já foi montada várias vezes,
sendo que a primeira em 1955.
Reski, que ainda não era Reski, fazia o
papel do Tio Gerúndio, fantasma, ex-marinheiro, tio de Pluft, que vive dormindo
no baú do tesouro. Ganhou elogios da crítica pela atuação.
Em seguida Maria Clara o levou para
trabalhar em Sonhos de Uma Noite de Verão, de Shakespeare, no Teatro do
Copacabana Palace.
De lá, tudo foi acontecendo: foi fazer
parte do elenco do Teatro Princesa Isabel com Pernambuco de Oliveira, Pedro
Veiga e Orlando Miranda, foi para
o Cinema, com José Oliosi e Daniel Filho, mais teatro, mais filmes, e, por uma
ironia do destino pegou o ônibus errado em São Paulo; ao invés de parar na
Rodoviária para voltar ao Rio, desceu no Vale do Anhangabaú. O erro acabou
sendo um grande acerto porque encontrou Ademar Guerra que o convidou para o
teste de elenco da peça Hair, onde acabou sendo contratado,
trabalhando nas montagens paulista e carioca.
Pelo menos duas curiosidades ocorreram
com ele por causa de Hair, ele nos conta que a primeira é
que o nu da peça era na base da escala, chegavam no Teatro e viam num
papel preso à parede quem ia ficar nu naquele dia, era assim desde os ensaios.
Logo na estreia ele foi escalado, tornando-se o primeiro nu do teatro
brasileiro.
A segunda é que ainda durante a
montagem paulista, ele e uma das atrizes resolveram se casar em pleno
palco. Como a peça era um
estrondoso sucesso, eles ganharam tudo:
casamento, festa, bufê, fotos, inclusive o figurino feito por nada mais,
nada menos que o famoso costureiro Clodovil, que disputou com Dener, outro
famoso costureiro da época, o direito de executar e dar a roupa de presente aos
nubentes. Ganharam também uma lua de mel num grande hotel em Atibaia. O
casamento foi televisionado ao vivo por Cidinha Campos e matéria nos jornais e
revistas da época, como Fatos e Fotos, Manchete, Amiga e outras.
Ao lado do ator Fábio Vila Verde, Reski é a raposa em O Pequeno Príncipe |
O enlace não durou muito, acabaram
optando pela separação, com a ex indo morar na Alemanha, mas Fernando nos
confessa que até hoje guarda com muito carinho o paletó que o Clodovil fez para
ele!
De sua atuação em Roda Viva de Chico
Buarque, Fernando ficou com um gosto amargo: era muito jovem e não entendia
muito bem o que estava ocorrendo, não sabia porque chamavam a peça de “teatro
de agressão”. Estavam em plena
época da repressão, e a peça, por ser de Chico Buarque e por tudo que
representava, era muito combatida, chegando ao ponto de num dia o CCC - Comando
de Caça aos Comunistas entrar quebrando o Teatro Ruth Escobar em São Paulo,
onde a peça estava sendo encenada e batendo violentamente nos atores. Reski,
assim como outros colegas, conseguiram fugir por um basculante do camarim que
ocupavam.
Com Freud Explica Fernando
conseguiu viajar por todo o Brasil, a peça é engraçada, um casal de homens que
o pai de um deles chega do interior e estranha a decoração do apartamento, tudo
rosa, estranha a relação deles. Os dois tentam esconder, mas lógico que não
conseguem. É uma comédia francesa.
Em TV já trabalhou com todos os tipos
de programação: humorísticos, novelas, mini séries, seriados, entrevistas, e também
em praticamente todas as emissoras de televisão. Participou de A Praça é Nossa, Chico
City, Carga Pesada, Sítio do Pica Pau Amarelo, foi
o juiz do julgamento de Seu Quéqué, um caixeiro viajante com nada menos que 3
esposas, na Mini Série Rabo de Saia da TV Globo.
Fez teste na Globo quando ainda estavam
colocando os elevadores no primeiro endereço da emissora, no Jardim Botânico.
Nas TVs Manchete e Bandeirantes
trabalhou durante muitos anos dando cobertura aos Bailes de Carnaval, entrevistando
as pessoas e nos bastidores e camarotes do Sambódromo.
É um dos diretores do Sindicato dos
Artistas e também durante muitos anos foi Professor de Curso Técnico de
Formação de Ator, o que achou muito prazeroso, gostava quando alunos seus eram
contratados e vinham contar e agradecer.
Com quase 50 anos de carreira, continua
cheio de ideias e projetos, criando e participando de programas piloto para
seriados de TV, buscando patrocínio para a sua peça, um teatro de revistas, Brasil,
de Janeiro a Janeiro, que já esteve em cartaz no Teatro Dulcina, e
trabalhando com programas de entrevistas
Filho amoroso, Fernando mora e cuida da
mãe já muito idosa e doente, o que até prejudica um pouco sua carreira, por ter
dificuldades de deixar a cidade para se apresentar em outros lugares.
O que cativa em Fernando, quando temos
a felicidade de ter um contato pessoal com ele, de conhecê-lo de perto, é o seu
modo carinhoso e extrovertido de ser, hiper ligado em
tudo que está ocorrendo, sobretudo no mundo artístico, os olhos brilham e
faíscam o tempo inteiro, mostrando sua inteligência e amor à profissão e a todo
o seu passado; bem diferente dos papéis que atuou em teatro, cinema e
televisão, quando normalmente fazia papel de tímido ou de bobo. Como tem tipo de gringo e usava óculos
de grau (que não precisa mais, graças ao Dr. Cesar Belchimol), era sempre
escalado para fazer esse tipo gringo bobo que não condiz com a pessoa que é.
Seu jeito real de ser, brilha e surge
quando está trabalhando com entrevistas, e não com os papéis que interpretou.
Atualmente, Fernando, dentre outras
atividades que desenvolve, está no ar com dois programas de entrevistas, um na
Rádio Copacabana onde normalmente leva cantores para se apresentarem ao vivo
ou em playback e pessoas que queiram divulgar seus trabalhos nas artes:
peças, filmes, lançamentos de livros, exposições etc, e também, desde 2010, está
toda quinta-feira à meia noite, no Canal 14 da NET Rio, com o programa GENTE
CARIOCA, o programa mais carioca da TV, que vai aos locais de
lançamentos, estreias, shows, tudo que acontece no meio artístico da Cidade
Maravilhosa, cobrindo o evento e entrevistando. Divide essa prazerosa tarefa
com Cida Moraes.
Fontes:
· Entrevista
concedida aos alunos do Curso de Biografias do Professor Denilson Monteiro,
ocorrida na Estação das Letras, novembro de 2015;
· Entrevista
a Cida Moraes ao Programa Gente Carioca, quando do lançamento do livro de sua
biografia Não Se Esqueçam de Mim, de Urfe da Silva Carvalho, Editora
Letras e Versos;
·
Entrevista ao Programa Conversa
Afinada, em setembro de 2015.
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